O DISCÍPULO E SUA CIÊNCIA
DISCÍPULOS E SUA CIÊNCIA
O DISCÍPULO E SUA CIÊNCIA
Orientações
Não estamos mais no passado, para repetir as mesmas atitudes que os antigos tomavam quando desconfiavam de um médium acostado. Meu pai contava que, lá pelas décadas de 70 do século XX, alguns catimbozeiros testavam os médiuns para ver se estavam mesmo acostados com suas entidades. Botavam brasas no chão para que os médiuns pisassem descalços, faziam passar por fogo de álcool, jogavam cacos de vidro espalhados pelo chão. Alguns chegavam ao absurdo de usar fios de eletricidade — uma barbaridade, meu Deus.
Eu sigo uma linha de pensamento diferente. Acredito que isso é desnecessário. O discípulo não precisa provar que está acostado com o espírito. O catimbozeiro, sendo dirigente da casa, conhece quem está acostado. Para isso, ele tem o saber da sua ciência: o dom da mediunidade. O verdadeiro catimbozeiro reconhece quem está acostado e quem está se passando por tal. Pela ciência do catimbozeiro e pelos seus transes, ele pode ver, ouvir, falar e até mesmo sentir a entidade presente em qualquer médium.
Há muitas formas de reconhecer um espírito acostado. Uma entidade pode dar seu recado de forma diversa, para afirmar sua presença. Muitas vezes, ela se expressa pelo pensamento, percorrendo a força mental do médium, dizendo o que se passa ou se passou por ali. Quem já viu sabe: uma entidade pode pegar na mão de uma pessoa e levá-la até o local desejado, revelando o que viu e tudo que ali se encontra.
O juremeiro tem a obrigação de preservar a saúde dos discípulos, o bem-estar de cada um e a integridade de todos. Ao cuidarmos dos caminhos de um discípulo, devemos estar conscientes de que eles confiaram suas vidas em nossas mãos. Por isso, temos o dever de zelar, cuidar, orientar e mostrar os caminhos que conduzam à evolução material e espiritual de cada um. Qualquer ato que vá contra o bem-estar de um discípulo está sob sua responsabilidade.
É preciso compreender que há médiuns em diferentes fases de desenvolvimento. Alguns ainda estão aprendendo a sentir, ver ou ouvir quando acostados. Existem transes conscientes e inconscientes. Todo cuidado é pouco quando se fala de mediunidade. Não importa se você é mais velho ou mais novo: a ciência de cada um é individual. Uns alcançam sua evolução cedo, outros podem levar décadas. Por isso dizemos: o conhecimento não tem idade — ele tem tempo, e esse tempo é determinado pela espiritualidade, não pelo ego humano.
Entidade não tem dono, tampouco pertence exclusivamente a uma só pessoa. Você pode ter cinquenta anos de caminhada, mas a entidade tem vontade própria para escolher quem ela deseja acostar. Essa questão de respeito é para todos. Não é porque alguém é mais velho que tem o direito exclusivo sobre a entidade. Ela escolhe quem quiser naquele espaço sagrado. Isso não é desrespeito, é vontade espiritual. E se ignorarmos essa vontade, estaremos contrariando a espiritualidade para favorecer o ego humano.
O discípulo pode conhecer seu lugar diante de um mais velho, mas a entidade não faz acepção de pessoas. Todos somos iguais perante os olhos da espiritualidade. O discípulo deve respeitar o espaço onde se encontra, mas não tem domínio sobre a vontade do espírito. E se disserem: “Mas ele está na casa alheia?”, ainda assim, o discípulo não tem culpa se a entidade, por vontade própria, resolve acostar nele.
A espiritualidade é para todos — mas nem todos são para a espiritualidade.
Como diz o ditado: todos podem ser escolhidos, mas nem todos recebem o chamado para dar continuidade à sua trajetória espiritual.
Qualquer discípulo iniciado pode beber da bebida sagrada da Jurema. Mas somente os escolhidos por ela terão o merecimento de conhecer a ciência determinada em seus caminhos.
Este texto é uma orientação.
Por: Juremeiro Canindé
01 de maio de 2025
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